Gagueira Infantil

Aos Pais e Professores: Como Ajudar

Resumo
O sucesso no tratamento da gagueira infantil depende, em grande parte, das atitudes dos pais e professores. Neste artigo será abordado o papel do professor na identificação do problema, orientando sobre quando é o melhor momento para ajudar e, principalmente, como abordar o problema no convívio com a criança.

Texto
A gagueira infantil ainda é tema de muitas dúvidas por parte de pais e professores e, o que pode ser considerado ainda mais problemático, é que a gagueira ainda é tratada, erroneamente, como uma coisa normal, ou como um problema exclusivamente de fundo emocional, causado pelos pais, pelo nervosismo ou pela timidez.

Atualmente muitas pesquisas têm sido realizadas sobre as causas da gagueira, sendo que as teorias mais atuais apontam para uma causa multifatorial, onde os aspectos genéticos e de processamento cerebral apresentam tanta influência quanto os aspectos psicossociais no desenvolvimento desta patologia.

O avanço científico na área da gagueira faz com que, cada vez mais, seja necessária a intervenção de um profissional especializado e que, os famosos truques e dicas, bem como a “sabedoria popular” caiam progressivamente em desuso, dando espaço a técnicas elaboradas e efetivas.

Nessa perspectiva, o PROFESSOR é, sem dúvida uma pessoa chave na detecção imediata do problema e também uma pessoa de grande importância para o sucesso do tratamento, dando suporte à criança nas atividades escolares e na sua integração social.

Como e quando ajudar?

Buscar um profissional competente e especializado é o mais indicado para quando começamos a perceber que uma criança está apresentando muitas rupturas, tensões ou esforço ao falar.

Na idade pré-escolar os “erros” na fala ainda são bastante comuns e, até certo ponto, aceitáveis dentro do processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem. Os mais relacionados à gagueira e que merecem atenção são as repetições de palavras, sílabas e sons, os prolongamentos de vogais e os bloqueios, principalmente quando acompanhados de esforço, movimentação facial ou corporal. É comum crianças apresentarem estes comportamentos típicos da gagueira por apenas alguns meses e depois voltarem ao normal sem nenhuma intervenção. Mas se dentro de seis meses não houver melhora pode ser um indicativo de que realmente seja um caso de gagueira.

Já na idade escolar as disfluências são sempre preocupantes e essas crianças precisam de ajuda especializada imediata. Sem essa ajuda a gagueira poderá realmente afetar seu desempenho na escola e seu bem-estar pessoal.

Algumas atitudes dos professores podem ajudar a criança disfluente a passar por esta fase de maneira mais harmoniosa.

Outras atitudes podem, de fato, ter impacto negativo como, por exemplo: falar para a criança parar de gaguejar, pensar antes de falar, respirar, ter calma, começar a frase de novo, mudar seu tom de fala, sugerir que a criança evite as palavras difíceis, responder pela criança ou completar suas frases. Além disso, demonstrar estar desconfortável, impaciente ou irritado com a forma da criança falar pode ser tão prejudicial como fingir que a disfluência não existe.

Ao invés disso, procure conversar com a criança em particular, explicando que você sabe que ela está apresentando dificuldade para falar, mas que você é seu professor, seu amigo e que a gagueira não lhe incomoda. Diga que você quer que ela fale para saber o que ela sabe, o que ela aprendeu e o que quer aprender sobre os assuntos. Conversando com a criança desta maneira ela saberá que você percebeu que ela gagueja, que aceita esse fato e que a aceita como ela é.

Incentive a participação da criança nos dias em que ela estiver mais fluente. De vez em quando peça para a classe toda (e não apenas ela, para que não se sinta “especial”) faça a leitura em dupla, em voz alta, pois lendo em uníssono provavelmente ela não irá gaguejar. Quando for fazer perguntas à classe chame-a logo, para que a tensão não aumente. Sempre que possível reforce para a classe toda que TODOS terão o tempo que for necessário para responder.

Outra atitude muito benéfica é reduzir a própria velocidade de fala, fazendo pausas de maneira mais demarcada.

Mantenha um contato de olho natural e procure, sempre, prestar mais atenção ao conteúdo que está sendo dito do que à sua forma.

Estas são apenas algumas dicas de como ajudar uma criança com gagueira que devem ser utilizadas com bom senso e considerando as individualidades de cada caso.

Com uma participação positiva dos professores e com a cooperação da família teremos sempre um melhor prognóstico no tratamento das gagueiras infantis.

Daniela Veronica Zackiewicz
Diretora Oficina de Fluência
www.oficinadefluencia.com.br
daniela@oficinadefluencia.com.br

Fonoaudióloga clínica (CRFa 2 – 7621) formada pela Universidade de São Paulo USP em 1995, foi membro do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica da Fluência e Desordens da Fluência da USP e completou seu mestrado em Ciências da Reabilitação pela Faculdade de Medicina da USP em 1999. Nesse mesmo ano idealizou e fundou a Associação Brasileira de Gagueira ABRA GAGUEIRA, contribuindo como Diretora por 15 anos.
Atende crianças, adolescentes e adultos com gagueira há mais de 20 anos e sua experiência vai além do âmbito profissional. Casada com o Almir (que gagueja) e mãe de três filhos Mariana, Bianca e Caio (que gaguejam), acredita que o tratamento da gagueira vai muito além do atendimento individual e que a transformação das pessoas é só o primeiro passo para garantir uma melhor qualidade de vida para as pessoas que gaguejam.
Em 2014, em parceria com a fonoaudióloga Luciana Contesini, idealizou a Oficina de Fluência, trazendo um novo modelo de atuação e transformação social.