Tratamentos

Como Eu Vejo e Como Eu Trato a Gagueira

De 16 a 22 de outubro de 2005

A aprendizagem é o processo pelo qual o comportamento é modificado pela experiência, o que implica que há a aquisição de uma resposta inteiramente diferente da anterior. Vejo então a gagueira como uma questão de aprendizagem, isto é, a pessoa que gagueja tem de aprender a falar de uma outra maneira. Essa é a visão que vários autores da escola Comportamental seguem, como Van Ripper 1971, Gregory H. 1979, Shames G. e Egolf D.,1976 e com a qual eu compartilho.

A gagueira pode ter sido aprendida por condicionamento clássico de Pavlov. Neste caso ela pode ser vista como uma resposta que foi associada a um estímulo. A gagueira seria aprendida por uma associação entre a exigência dos pais na hora que a criança começa a falar e o ato de falar. Por um mecanismo de associação a criança se condiciona e aprende uma resposta especifica: gaguejar sempre que for falar algo importante. Falar é então associado a: Tensão – Insegurança – Medo. Ela até pode não querer falar mais daquela maneira, mas não consegue, aprendeu desta maneira, está condicionada.

No tratamento ela terá de aprender a falar de outra maneira e readquirir confiança em sua maneira de falar, através de orientações aos pais e do trabalho de modificações da fala feita no consultório.

A gagueira também pode ter sido aprendida por condicionamento operante de Skinner. O esquema aqui será haver um estímulo para falar, em que há um reforço positivo ou negativo, dado pelo ambiente. O reforço negativo, como brigar com a criança na hora que ela fala, pedindo para repetir ou falar mais devagar, por exemplo será ou não aceito pela criança. O comportamento de gaguejar poderá então ser ou não extinto. Por outro lado, o reforço dado pelos pais ou o ambiente, poderá ser interpretado pela criança como válido ou positivo, caso ela estiver necessitando de atenção. O comportamento aqui será mantido. A criança aprende a gaguejar para conseguir atenção do ambiente ou ser super protegida por este.

No tratamento será utilizado o inverso do reforço dado pelo ambiente. O fonoaudiólogo irá dar recompensas verbais por toda frase ou discurso fluente, mas poderá também punir todo momento de gagueira pedindo para cancelar a fala e recomeçar de outra maneira. Poderá ser ensinado à criança um ritmo de fala diferente, que se reforçado pelos pais tem todas as chances de ser aprendido. A criança aprende hábitos com muita facilidade, feliz ou infelizmente….

O método de lidar com a gagueira como um aprendizado tem a vantagem de não se ater à causa da gagueira. Não há polêmicas em torno deste assunto. Já que não se sabe a sua causa, irá tratar-se diretamente e de modo objetivo o problema: eliminar o sintoma. No tratamento de adultos e adolescentes é usada a técnica de modelar o comportamento de gaguejar através de modificação feitas na hora que a gagueira acontece, ou seja, o paciente é orientado a interromper a fala logo depois de gaguejar e refazer sua maneira de falar. Será dado um modelo de falar modificado: soltando a respiração de modo controlado, sem prender os sons na garganta, sem tencionar os articuladores (lábios, língua, palato). A fala deve ser feita de modo suave e sem nenhum tipo de esforço. Resumindo, as técnicas de modificação da fala serão:

– cancelar ou interromper a fala sempre que houver uma gagueira
– pedir para fazer uma pausa e colocar a língua, ou lábios, ou as cordas vocais numa posição mais relaxada
– empurrar o ar para fora prolongando a palavra ou introduzindo um ar expirado
– dizer a palavra de novo e continuar com o discurso ou com a atividade que estava fazendo

Ao mesmo tempo em que se ensina a técnica da fala fluente, certas orientações sobre a ansiedade e o medo são passadas aos gagos, como:

– acabar com a vergonha de falar
– ter uma atitude objetiva discutindo abertamente o assunto gagueira
– não fugir das situações de fala, enfrentá-las
– aprender a controlar o medo na hora de comunicar-se
– não lutar contra a gagueira, mas aprender a controlá-la

O tempo médio de tratamento para adultos ou adolescentes é estimado como sendo em torno de 12 meses, um pouco mais, ou um pouco menos, tudo dependendo do envolvimento do paciente e do manejo das técnicas pelo terapeuta.

Em crianças o tempo médio é de 6 meses e aqui também depende do colaboração dos pais e da compreensão da criança.

Existe uma certa crença que a gagueira não tem cura. Se gaguejar é a interrupção do fluir do discurso e se a pessoa que gagueja passa a não ter mais interrupções no seu discurso, podemos dizer que ela não gagueja mais. Nesse caso ela não pode mais ser considerada gaga.

É preciso ter em mente que todos somos disfluentes, a gagueira então é uma questão da quantidade e de qualidade no modo de falar.

Regina Jakubovicz é fonoaudióloga (CRFa 906/RJ), doutora em Fonoaudiologia pelo Museu Social Argentino – Buenos Aires, professora da Universidade Estácio de Sá e do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos no Rio de Janeiro e autora de livros e capítulos científicos.