Causas

Neurofisiologia da gagueira – alguns estudos

Estudos tentam compreender o funcionamento cerebral das pessoas que apresentam gagueira desde o final do século passado. Varios autores têm mostrado que um importante componente etiológico da gagueira pode ser disfunções nos núcleos da base (figura 1) e nas conecções com a area motora cortical (figura 2) (Jones et. al., 2002, Alm, 2004 e 2006; Smits-Bandstra e DeNil, 2007; Nebel et. al., 2009).
Atualmente, os estudos sobre o funcionamelto do cérebro podem contar com técnicas de imagem cerebral funcional . As mais utilizadas são a tomografia por emissão de positons (TEP) e a ressonância magnética funcional (IRMf). Essas duas técnicas permitem que o cérebro seja estudado “em funcionamento”. Seguem abaixo algumas resenhas de estudos que buscaram entender a neurofisiologia da gagueira.

Título do artigo: Brain activation abnormalities during speech and non-speech in stuttering speakers
(Anormalidades na ativação cerebral durante a fala e não-fala de falantes com gagueira)
Autores: Soo-Eun Chang, Mary Kay Kenney, Torrey M.J. Loucks, Christy L. Ludlow
Revista: NeuroImage 46 (2009) 201-212
Link para o artigo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19401143

Vários estudos têm apresentado evidências da existência de anormalidades no planejamento e execução de gestos motores não ligados à fala em indivíduos com gagueira. Neste estudo, foram medidas respostas para percepção planejamento e produção fluente além de gestos não relacionados à fala do trato vocal por meio de imagens de ressonância magnética funcional. Durante a percepção e o planejamento de fala e de “não fala”, os indivíduos com gagueira apresentram menor ativação nas regiões frontal e temporoparietal em relação ao grupo controle. Já na produção, tanto de fala quanto de não-fala, os indivíduos com gagueira apresentaram menor ativação no giro temporal superior esquerdo e na área pré-motora esquerda. No entanto, ainda durante a produção, os indivíduos com gagueira apresentaram maior ativação no giro temporal superior direito, além de outras regiões como o putemen e a ínsula. As diferenças encontradas entre o grupo controle e o grupo experimental foram maiores no sexo feminino. Os resultados mostram que a diferença encontrada na ativação neuronal não é específica da fala.

 

Título do artigo: Brain anatomy differences in childhood stuttering
(Diferenças anatômicas cerebrais na gagueira infantile)
Autores: Soo-Eun Chang, Kirk I. Erickson, Nicoline G. Ambrose, Mark A. Hasegawa-Johnson, and Christy L. Ludlow
Revista: NeuroImage 39 (2008) 1333-1344
Link para o artigo : http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18023366

A gagueira é uma desordem de fala que afeta 5% das crianças. No entanto, a remissão espontânea acontece em 70% dos casos. Foi levantada a hipótese de que encontrariam-se diferenças entre o hemisfério direito e esquerdo do cérebro nas crianças com risco de gagueira, de forma similar ao que foi encontrado anteriormente em adultos com gagueira. Foram estudados 3 grupos: crianças diagnosticadas com gagueira do desenvolvimento, crianças que apresentam gagueira mas tiveram remissão e crianças sem gagueira. Os resultados mostraram que as crianças que apresentaram remissão da gagueira mostraram uma tendência a deficiência no volume de matéria cinza no hemisfério esquerdo. No entanto, as crianças com gagueira do desenvolvimento foram associadas a uma redução da integridade da matéria branca no sistema de fala do hemisfério esquerdo.

 

Título do artigo: Severity of dysfluency correlates with basal ganglia activity in persistent developmental stuttering.
(Correlatos entre a gravidade das disfluências e a atividade dos núcleos da base na gagueira do desenvolvimento persistente)
Autores: Anne-Lise Giraud, Katrin Neumann, Anne-Catherine Bachoud-Levi, Alexander W. von Gudenberg, Harald A. Euler, Heinrich Lanfermann, Christine Preibisch.
Revista: Brain and Language 104 (2008) 190-199
Link para o artigo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17531310

O objetivo do estudo foi descrever a relação entre o grau de severidade das disfluências na gagueira do desenvolvimento a atividade nos núcleos da base. Foram submetidos a ressonância magnética funcional 12 individuos com gagueira do desenvolvimento antes e após 12 semanas de terapia. A terpia de base para esta pesquisa foi The Kassel Stuttering Therapy (KST), que é uma adaptação do modelo de tratamento Precision Fluency Shaping Program (Webster, 1975). Os resultados do experimento mostraram que há envolvimento dos núcleos da base de duas formas: na relação com o grau de severidade da gagueira e no impacto da terapia.

 

Título do artigo: Cortical plasticity associated with stuttering therapy
(Plasticidade cortical associada com terapia da gagueira)
Autores: Katrin Neumanna, Christine Preibischb, Harald A. Euler, Alexander Wolff von Gudenberg, Heinrich Lanfermann, Volker Gall, Anne-Lise Giraud
Revista: Journal of Fluency Disorders 30 (2005) 23-39
Link para o artigo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15769497

Estudos de neuroimagem têm mostrado que a gagueira do desenvolvimento pode ser relacionada com duas disfunções: anormalidade na matéria branca em áreas de fala do hemisfério esquerdo do cérebro e hiperatividade do hemisfério direito. O objetivo do trabalho foi investigar o efeito da terapia da gagueira na atividade cerebral. Foram estudados nove individuos do sexo masculino antes e após 12 semanas de terapia por meio de imagens de ressonância magnética funcional. Os resultados sugerem que técnicas de modelamento de fluência reorganiza a comunicação neuronal entre o planejamento motor de fala, execução motora e areas temporais.

Letícia Corrêa Celeste é fonoaudióloga, mestre e doutoranda em Linguistica pela UFMG e professora adjunto de fluência do curso de Fonoaudiologia/FEAD.