Gagueira Infantil
Gagueira Infantil
Estima-se que, na população brasileira, existe cerca de 1 milhão e seiscentos mil indivíduos que manifestam gagueira (Abragagueira). Destes, não se sabe quanto são crianças, entretanto, estimativas internacionais apontam para uma distribuição em pré-escolares ao redor de 2.4% e, em escolares, ao redor de 1%.
É de consenso que a Gagueira é uma disfunção do controle motor e temporal da fala, dinâmica, evolutiva, que emerge na infância entre os 18 meses e 7 anos, podendo ocorrer até os 12 anos de idade. Co-ocorre com o desenvolvimento da linguagem e emerge de interações complexas entre a história familiar, o contexto social, os processos lingüísticos, os fatores emocionais, a organização motora da fala e outros aspectos. Este quadro é reconhecidamente de base genética e corresponde a 80% do total de gagueiras identificadas na infância, sendo que a prevalência na fase adulta é um pouco menor do que 1%.
Pode-se afirmar que existe uma expectativa em relação à variação das disfluências que vai desde aquelas que fazem parte do desenvolvimento, que incidem ao redor de 1,5 ano – 6 anos, até aquelas denominadas de patológicas, ou seja, que fazem parte da gagueira e, que tem seu inicio também no mesmo período.
Fazem parte das disfluências normais ou típicas, as rupturas da fala do tipo: interjeições, hesitações, revisões, palavras incompletas, repetição de frases, repetição de palavras até duas vezes. Fazem parte das disfluências gagas ou atípicas, as rupturas da fala do tipo: repetição de palavras (três vezes ou mais), repetição de sílabas, repetição de sons, prolongamentos, bloqueios, pausas longas e, intrusão.
A gagueira infantil é vista como um quadro que não está totalmente desenvolvido e, as interrupções iniciais que ocorrem na fala são mais simples e, existem nesta etapa poucas reações associadas à dificuldade da fala
Critérios descritos e aceitos internacionalmente definem que as disfluências típicas da criança não gaga não podem ultrapassar mais do que 10% de disfluências total e,geralmente, se constituem de interjeições, revisões, repetições de palavras, sendo apenas uma unidade de repetição, ocasionalmente duas. Alem disso, após os 3 anos, a criança não gaga mostra declínio nas disfluências repetitivas, como por exemplo, nas repetições de parte de palavras.
Nos casos limítrofes de gagueira, frequentemente, podem ser observadas entre 2% a 3% de disfluências atípicas, mais do que 10% de disfluências total, sendo mais do que duas unidades de repetição, mais repetições e prolongamentos do que revisões ou frases incompletas. Entretanto, ainda nestes casos, as disfluências são mais soltas e relaxadas e as reações a elas são raras.
Na medida em que a gagueira infantil se desenvolve outros sinais vão sendo observados, tais como: tensão muscular; muitas vezes, pressa para terminar a fala; repetições mais rápidas e irregulares, com terminações abruptas de cada elemento. Nesses casos, frequentemente, é possível observar aumento do Pitch (timbre da voz) no final de uma repetição ou prolongamento, posturas articulatórias fixas como resultado de tensão na musculatura da fala. Além disso, comportamentos de escape, algumas vezes, podem ser observáveis, como por exemplo, piscar de olhos, movimentos de cabeça, etc. Embora, as crianças nesta fase já demonstrem certa consciência da dificuldade de fala e sentimentos de frustração relacionados a ela, estes não são sentimentos negativos tão fortes.
Nos casos classificados como moderados, os bloqueios tendem ser os sinais lingüísticos mais freqüentes e, frequentemente, se tornam mais tensos e longos e, podem ser acompanhados por outros sinais, tais como, tremores, comportamentos de “evitação”, principalmente, de palavras temidas, medo, frustração, vergonha e embaraço.
Já, nos casos mais severos, os bloqueios se tornam mais tensos e longos e, podem ser acompanhados por sinais mais variados e intensos dos que os descritos acima.
A partir da observação clinica de crianças com queixa de gagueira, podemos afirmar que a gagueira infantil evolui e se manifesta de diferentes formas e em variados graus de severidade. Algumas delas persistem até a vida adulta, outras desaparecem até a fase da puberdade, geralmente, ao redor de 16/17 anos, outras parecem ser idiopáticas, outras geneticamente determinadas, e outras ainda, associadas a problemas de fala e linguagem ou ser um fenômeno motor isolado.
A cronificação do quadro ao longo do processo evolutivo, pode implicar em maior impacto psicológico e no mal ajustamento social do indivíduo.
Com base nos pressupostos teóricos e clínicos acima descritos podemos supor que a intervenção precoce nos casos de gagueira infantil, por meio da avaliação, diagnóstico, terapia e da orientação aos pais, pode contribuir para um melhor prognóstico do quadro.