Gagueira Infantil
Gagueira Infantil
Minha fala parece uma rua cheia de lombadas (Lucas, 9 anos)
Até hoje, há quem aconselhe os pais de crianças pequenas que começam a gaguejar a simplesmente “ignorar o problema” que este desaparecerá com o tempo. De fato, algumas crianças superam suas dificuldades sozinhas, mas – é aí que mora o problema – algumas não. Como saber a que grupo pertence uma determinada criança? A primeira orientação a ser dada para os pais de crianças que começam a apresentar gagueira é justamente não ignorar o problema. Clínicos concordam que o problema da gagueira é muito mais fácil de se prevenir em crianças do que se tratar em adultos. O fato de detectar precocemente e se tomarem as medidas necessárias, é uma das mais valiosas contribuições que um fonoaudiólogo pode oferecer. Algumas perguntas devem ser respondidas e este profissional é o mais indicado para fazê-lo:
– A criança está mesmo gaguejando?
– Se está, quanto o problema progrediu?
– Quando começou?
– Que fatores estavam associados ao aparecimento do problema?
– Quão ciente está a criança do fato de que sua fala está bloqueada?
– Como os ouvintes tentam ajudá-la e como ela responde às suas atitudes?
– Como podemos alterar o ambiente da criança para evitar que o problema se torne pior?
Parte do tratamento de uma criança que está começando a gaguejar é amplamente indireto: trabalha-se para mudar o ambiente através da orientação aos pais. Diversas variáveis devem ser controladas: é útil verificar em que circunstâncias a criança tem as maiores interrupções na fala. Com quem ela mais gagueja? Em que ocasiões (por exemplo: quando está muito cansada, excitada?) A partir do momento em que se descobre como e quando a criança está hesitando, deve-se procurar a modificação destas circunstâncias.
Cabe ao fonoaudiólogo prover sugestões gerais e específicas para mudar a interação no lar e relacionamento pais-filhos a fim de propiciar uma melhora na comunicação. Quando se pode intervir antes que a criança desenvolva medo e reações de fuga e os pais são abertos à orientação, o prognóstico de remissão da gagueira é excelente.
O que pode ser mudado no ambiente da criança:
– Nunca diga para não gaguejar.
– Não faça a criança mais ciente da gagueira do que já está; mas, por outro lado, não faça uma conspiração de silêncio em torno do problema. (Simplesmente ignorar o problema, não resolve).
– Faça a criança se sentir aceita e amada.
– Nunca discuta sua gagueira com outros na sua presença.
– Evite compará-lo com irmãos ou outras crianças.
– Não se deve apenas tentar mudar as atitudes e comportamentos em relação a como a criança fala, mas também tentar modificar as outras atitudes da família, como por exemplo, reduzir a tensão e a ansiedade em geral.
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR:
Crianças de aproximadamente 6 a 12 anos de idade não estão apenas começando a gaguejar; eles lutam quando falam e podem apresentar sinais de medo, frustração e ansiedade. O ciclo de perpetuação já se iniciou e agora é necessário tratar diretamente da gagueira.
O fonoaudiólogo deve preparar uma descrição do padrão da gagueira da criança:
– Quão freqüentemente ela bloqueia?
– Quão severas são as disfluências?
– Quão complexo é o momento da gagueira?
Deve também notar comportamentos de fuga, reações de medo e sinais de frustração. Também é importante saber como a criança se vê em relação a seu problema.
Para o tratamento desta faixa etária, utilizo um programa baseado na abordagem do condicionamento operante de Bruce Ryan (1975), baseada no pressuposto de que a gagueira é um comportamento aprendido e que este pode ser desaprendido ou modificado suficientemente para capacitar a criança a falar com razoável fluência. Fatores cruciais para a melhora incluem: pais que cooperam e que participam de um programa de aconselhamento; nenhum registro anterior de tratamento mal sucedido; ausência de outros problemas significativos (outras dificuldades); e quando a criança tem outras fontes de sucesso (esporte, música, por exemplo).
Não se deve usar eufemismos como “este probleminha de fala” e evitar a palavra gagueira: as crianças desta idade respondem a uma abordagem aberta, honesta e objetiva.
Fernanda Papaterra Limongi
Fonoaudióloga – PUC-SP
Pós-graduação e especialização em Afasia e Gagueira na University of North Dakota – USA