Tratamentos

Gagueira: Uma, Dentre as Possíveis Abordagens Psicanalíticas

De 16 a 22 de outubro de 2005

A gagueira ocorre quando o fluxo da fala normal é interrompido anormalmente por repetições, prolongamentos ou bloqueios, ou por comportamento de evitação ou luta. Além de ser um problema pessoal (indivíduos que gaguejam relatam medo, frustrações, insatisfações consigo mesmos, baixo nível de aspiração e perda de auto-estima), a gagueira é também um evento psico-social. (Normalmente, pessoas não gaguejam quando sozinhas ou falando com bebês ou animais de estimação). Os fenômenos visuais e auditivos que ocorrem durante o ato da gagueira são estímulos nocivos numa situação de comunicação. Os ouvintes tendem a reagir de diversas maneiras, tanto implícitas quanto explícitas. A pessoa que gagueja, por sua vez, tende a reagir à resposta do ouvinte.

Minha compreensão da etiologia da gagueira está fundamentada na teoria psicobiológica de Engel (1975) que reconhece a existência de fatores predisponentes (de origem genética e/ou neurológica), de fatores precipitantes (predominantemente ambientais) e fatores perpetuantes (incluindo medo e ansiedade) para o seu aparecimento.

Para o tratamento desta condição, que chamarei de gagueira funcional (uma vez excluídos outros diagnósticos tais como: gagueira secundária a lesões cerebrais, gagueira histérica ou neurótica, reações episódicas ao estresse), utilizo um programa baseado na abordagem do condicionamento operante de Bruce Ryan (1975), com alguns acréscimos que serão mencionados adiante, propostos por Moss (2001).

A abordagem de Ryan é baseada no pressuposto de que a gagueira é um comportamento aprendido e que este pode ser desaprendido ou modificado suficientemente para capacitar a pessoa a falar com razoável fluência.

Os acréscimos introduzidos referem-se à inserção de procedimentos que visam trabalhar os sentimentos de frustração, raiva e medo, oriundos do próprio comportamento da gagueira, que incluem técnicas de relaxamento, visualização, a utilização de técnicas de biofeedback, e princípios da terapia cognitiva.

O programa de condicionamento operante que utilizo é composto por três fases: estabelecimento, transferência e manutenção. Na fase de estabelecimento, o objetivo é auxiliar o paciente a ter fluência na presença do terapeuta e em situações ideais de comunicação. Na fase de transferência, o objetivo é transferir esta fluência para outras situações, na presença de outras pessoas que não o terapeuta, em condições não tão ideais de comunicação. A fase de manutenção requer que a fluência seja conseguida em uma grande variedade de situações de comunicação, por um extenso período de tempo.

O programa é levado a efeito em três modalidades: leitura, monólogo e conversação.

Utilizo também o Biofeedback em treinos de relaxamento. É um método que visa maior consciência e controle sobre a mente e o corpo. Instrumentos de feedback são instrumentos eletrônicos destinados a monitorar a mudança no corpo humano e dar um feedback simultâneo ao usuário. Este se torna cônscio da mudança física e mental que está ocorrendo e controla esta mudança.

São estas as linhas de base que sigo no meu tratamento com pessoas que gaguejam. Mas é muito importante salientar que cada planejamento é único, atendendo as necessidades específicas do paciente em questão.

Este tratamento tem a duração de um ano, aproximadamente, com sessões semanais de quarenta e cinco minutos cada uma. Os resultados dependem, em grande parte, da colaboração e motivação do paciente, que deve compreender a sua participação no processo de modificação de seu comportamento.

Fernanda Papaterra Limongi é fonoaudióloga pela PUC-SP (CRFa 1929/SP), especialista em afasia e gagueira pela University of North Dakota (USA), participa da ONG Ser em Cena e é autora de livros e capítulos científicos.