Gagueira Infantil
Parceria entre fonoaudiólogo e familiares na gagueira infantil
A gagueira é um distúrbio da fala que freqüentemente começa na infância. O diagnóstico e a intervenção fonoaudiológica precoces são fundamentais para o sucesso terapêutico, tendo em vista que a criança apresenta condições mais favoráveis para a aprendizagem de novas habilidades, entre elas, a fluência, durante os anos pré-escolares. Nesta fase da vida, a criança também tende a imitar os modelos de fala a que está exposta, portanto, o tratamento da gagueira infantil envolve, além da terapia fonoaudiológica, a participação dos familiares e professores.
A intervenção fonoaudiológica na criança tem como objetivo eliminar a gagueira ou prevenir o desenvolvimento de comportamentos de gagueira mais avançados. Embora pesquisas indiquem que muitas crianças irão se recuperar espontaneamente da gagueira, alguns pré-escolares irão desenvolver gagueira persistente. Para estas crianças, a intervenção precoce seria indicada, pois freqüentemente tem sido relatada como satisfatória, além de apresentar resultados num período relativamente curto de terapia.
O trabalho integrado com a família é fundamental, já que os familiares são os principais interlocutores da criança, e, assim sendo, podem determinar o ambiente comunicativo. Dependendo da maneira como interagem com a criança que gagueja, poderá haver tanto facilitação como perturbação da aprendizagem de uma fala mais fluente. Desta forma, o trabalho conjunto do terapeuta com a família propiciará melhores resultados, facilitando a transferência e manutenção da fluência obtida na terapia para o ambiente domiciliar. Portanto, para que os familiares possam fornecer um modelo de fala adequado à fluência e saibam reagir diante da gagueira, é preciso que lhes sejam dadas orientações específicas.
Os objetivos do trabalho com os familiares são vários, entre eles destaco: desenvolver a compreensão do problema de gagueira de suas crianças; aprender a diferenciar as disfluências comuns das disfluências gagas; identificar fatores que tendem a interromper a fala da criança e minimizar as influências dos mesmos; investir na qualidade do tempo durante as interações diárias com a criança; desenvolver modelos comunicativos que favoreçam o desenvolvimento da fluência (fala mais lenta, fácil e relaxada, aumentar o tempo das pausas nas conversações, balancear entre questões e comentários, prover momentos de silêncio para escutar); e, dar suporte para que a criança generalize o novo modelo de fala aprendido na terapia através da prática do programa em casa.
O trabalho de orientação familiar irá favorecer a fluência da criança, porém, o terapeuta também deve modelar a fala da criança para um modo mais suave de produção do fluxo da fala, visando facilitar o desenvolvimento da fluência.
Dentre os objetivos terapêuticos específicos do trabalho fonoaudiólogo com a criança, destaco:
– desenvolver as habilidades da fala fácil e relaxada na criança e facilitar sua generalização, por meio do aumento do tamanho e complexidade das emissões em várias tarefas, em diferentes lugares, aumentando a importância do conteúdo;
– minimizar a presença de fatores ambientais que contribuam para a disfluência, e, gradualmente, aumentar a tolerância a estes fatores;
– aumentar as habilidades da criança nas áreas que podem estar interferindo na manutenção da gagueira, como, por exemplo, linguagem, fala e pragmática;
– desenvolver um relacionamento positivo entre criança e terapeuta e encorajar respostas positivas para novas tarefas, novas situações de fala e novos interlocutores.
Acredito, portanto, que o trabalho conjunto do fonoaudiólogo e familiares da criança que apresenta gagueira pode efetivamente favorecer a aquisição, transferência e manutenção da fluência.
Cristiane Moço Canhetti de Oliveira é fonoaudióloga, doutora pelo Instituto de Biociências – área de Genética – UNESP – Botucatu e professora do Departamento de Fonoaudiologia – UNESP – Marília.