Gagueira Infantil

Prevenção da gagueira

A gagueira existe desde que o homem começou a falar, isso sem levar em conta as diferentes culturas, épocas e línguas. O problema afeta 1% da população adulta e 4% das crianças. Certos estudos sustentam a hipótese de haver um fator genético comprovadamente presente em 60% dos casos estudados e não está presente em 40% dos casos. Os meninos são cinco vezes mais suscetíveis a ter gagueira do que as meninas.

Assim como a criança aprende os primeiros passos, ela também aprende a falar as palavras e as frases e a pronunciar os sons da língua. Entre 12 a 16 meses ela já fala as primeiras palavras que geralmente são nomes comuns de seu dia a dia e que podem conter no máximo 2 silabas (água, leite, papai, mamãe, etc.). Este vocabulário cresce e surgem mais nomes e verbos. Nesse período, a criança repete silabas e palavras pelo simples prazer de repetir.

Com 4 anos seu vocabulário deverá ser de 1000 a 1500 palavras. Surgem frases contendo adjetivos, pronomes, proposições e outras estruturas gramaticais. Algumas crianças podem não passar por essas etapas exatamente assim e nesse caso ficam com dificuldades para encadear as frases. É preciso, no entanto, diferenciar as crianças que não chegam a formar frases por vários motivos (Atrasos de linguagem, Jakubovicz R. Ed. Revinter, 1999) daquelas que não conseguem encadear o discurso por dificuldades com a fluência da fala.

A criança com disfluência normal repete ocasionalmente, a silaba (no máximo uma ou duas vezes) ou repete palavras de vez em quando, também uma ou duas vezes (no maximo 3 vezes). Ela pode também ter muitas hesitações no discurso, utilizando palavras de apoio do tipo “eh, hum, ai”, etc. Estas disfluências ocorrem a maior parte do tempo entre a idade de 2 a 7 anos e tendem a diminuir ou a aumentar, dependendo da situação de fala, do tipo de ouvinte, da pressa de falar, do vocabulário exigido, da pressão do meio, da agitação e outras situações do gênero que desorganizam também os falantes adultos sem que isso seja classificado como sendo uma gagueira.

A disfluencia na infância tem sido avaliada por vários autores numa quantidade bem grande de crianças. As pesquisas indicam que em 100 palavras ditas pela criança é comum encontrar-se de 10% a 12% de palavras disfluêntes, isso de 2 a 5 anos de idade. A partir de 6 anos, um pouco mais ou menos, a falta de fluência começa a diminuir e não se pode mais falar em aprender nem em praticar o uso da linguagem.

Quando se fala em ausência de fluência ou gagueira já instalada, a referencia é a de repetições de silabas, palavras e frases, prolongamento de sons e bloqueios de ar que são feitos em quase todas as situações de fala. Pode acontecer da criança demonstrar que quer falar, mas não consegue, exibindo sinais de luta e esforço para conseguir se expressar. Da mesma maneira quando a criança faz caretas ou envolve outras partes do corpo para conseguir falar podemos dizer que estamos diante de características que não são encontradas normalmente nas crianças em idade de amadurecer a linguagem. Em idade nenhuma as repetições, hesitações, e frases incompletas que se fazem acompanhar de um esforço evidente e com movimentos no corpo e na face no momento de falar, é característica do inicio da linguagem ou da gagueira “chamada fisiológica”. O esforço físico na comunicação indica que está havendo um bloqueio do ar ou uma pressão exagerada nos articuladores, o que não é normal de acontecer. Então não é a idade da criança que determina se uma gagueira é passageira ou se ela já está instalada, mas a quantidade (muitas interrupções) e a qualidade (esforço físico para falar) das interrupções do discurso.

Os pais de crianças com gagueira já devem ter ouvido frases do tipo:

“Não se preocupe, a gagueira passa com o tempo, finja naturalidade.
“Faça de conta que não está acontecendo nada”
“Mande seu filho respirar fundo e falar”
“Ele pensa mais rápido do que fala por isso gagueja”
“O avô dele também gaguejava, não tem jeito, é de família”

Essas frases provavelmente foram ditas por pediatras, professores, parentes, avós, amigos e até vizinhos. O grande problema com esse tipo de conselho é que eles só são válidos para aqueles que tiveram gagueira por uma fase e que esta passou realmente com o tempo ou com a maturidade. Porém para aqueles que ainda continuaram gaguejando, tais conselhos afastaram a possibilidade de esclarecimento, informação e tratamento, enfim a prevenção da severidade e cronicidade de um distúrbio que sabidamente cresce e aumenta com o tempo e que acarreta consigo sérios e dolorosos problemas sociais e pessoais.

Alguns conselhos são de utilidade aos pais de crianças que já apresentam sinais de não conseguirem falar fluentemente:

Não chamar a atenção da criança sobre sua maneira de falar. Não é assim que se consegue resolver o problema. É melhor não acentuar um lado negativo. Escutar a criança falar sem julgar é um bom conselho.

Esperar a criança terminar de falar. Quando ela está na fase de aprendizagem da linguagem, às vezes fica procurando as palavras, o que resulta em muitas hesitações e pausas. Quando ela terminar de falar poderá ser dado o modelo de linguagem, refazendo a frase de forma gramaticalmente correta ou com um bom modelo de fluência.

Toda vez que se dá conselhos do tipo: fala devagar ou fica calma ou repete o que falou ou não dá para entender nada falando assim, respira e depois fala, pensa antes de falar, relaxa e fala, etc. corresponde a dizer que a criança tem um problema de comunicação e que sua maneira de falar não é aceita.

Olhar a criança enquanto fala mostrando com esta atitude que está realmente interessada no que ela diz e não em como ela fala.

Os pais não devem permitir que irmãos, colegas ou familiares façam gozações, imitem ou coloquem apelidos. Se isto acontecer, instruções e reprimendas devem ser passadas longe da criança que gagueja. Se a família tiver uma atitude benevolente e descontraída em relação ao problema, há todas a chances de familiares e amigos terem a mesma atitude também.

Os pais precisam entender que certos hábitos terão de ser mudados para ajudar à criança a desenvolver melhor sua linguagem prevenindo problemas mais adiante na sua fala. É da maior importância os pais se manterem calmos e serenos para lidar com o problema. Há esperanças quando o distúrbio é debelado no seu inicio. Felizmente este é um problema para o qual existe uma ajuda especializada. Os pais não devem se sentir sozinhos nesta tarefa. Devem procurar ajuda de um profissional da fonoaudiologia.

Regina Jakubovicz – CRFa 906
Doutora em fonoaudiologia pela Universidade do Museu Social Argentino
Especialista em linguagem
Professora da Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro